quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Contos do busão

Lá vou eu todos os dias. Acordo cedo, me arrumo e vou enfrentar a minha rotina. Chego no ponto de ônibus e encontro sempre as mesmas pessoas, com as mesmas expressões desanimadas e os meninos, geralmente, com os cabelos bagunçados.

De manhã, por incrível que pareça, é tudo bem tranquilo, não encontro muitas espécies raras pelo caminho. Mas é só eu descer no ponto final e atravessar a rua para a barquinha que já começa a aparecer diversas figuras que, sem dúvida, poderiam ser protagonistas de muitas histórias engraçadas.

A hora do almoço é a mais “tensa”. Lá estava eu, lutando contra meu sono, tentando não dormir com medo de perder o ponto. Infelizmente, ou felizmente, eu dei uma cochilada. Acordei na Conselheiro Nébias com umas senhorinhas sentadas nos bancos da frente falando um pouco alto. Um pouco alto é sutileza demais, estavam gritando:

- Mas isso tudo é uma vergonha – dizia uma
- Tem muita coisa errada nesse país – a outra completou
- É, mas você votou no Tiririca – retrucou a primeira
- Votei e votaria de novo, todo mundo fica jogando pedra nele, coitadinho. Ele vai se candidatar à Senador na próxima eleição, e se ele fizer coisas boas como deputado, ele GANHA.

Sim, ela deu um berro quando finalizou o sermão que eu, ainda sonolenta, dei um pulo do banco. Havia uma moça sentada do meu lado e eu pude perceber que se ela tivesse lazer nos olhos, ela queimaria as senhoras exaltadas lá do fundão.

O ônibus segue. No mesmo ponto, todos os dias, sobe um moço contando a mesma história. Ele tem AIDS, é pai de 3 crianças, não consegue emprego e toda aquela historinha de que “Ah, eu poderia estar roubando, matando, mas estou aqui, pedindo humildemente sua contribuição”.

Nesse dia, uma moça com uns 40 e poucos anos se irritou com os contos do rapaz e disse que não ia ajudar ‘vagabundo’ nenhum e ia chamar a polícia. O rapaz valente estufou o peito e retrucou:

- Você pode chamar a polícia, eu conheço todos os policiais, todos os delegados. Eu sou conhecido na cidade.

“Bom pra ele”,pensei e comecei a rir, pois todas as pessoas dentro do ônibus começaram a gritar com o homem. O ônibus parou e ele gritando e reclamando, desceu.

Quando eu pensei que tudo estava um pouco mais calmo, doce ilusão. Um infeliz sentado atrás de mim começa a escutar música no último volume. Eu tenho uma dúvida. Porque todas as pessoas que não utilizam o fone, que é um acessório feito justamente para dar privacidade aos seres humanos, ouvem funk? É sempre funk.

Eu reclamo, reclamo, reclamo que tenho que pegar 4 ônibus por dia e 2 barquinhas, mas pelo menos, eu me divirto. Às vezes.

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